RECOMEÇO
Sobre a mesa, uma folha de papel.
Estava ali avulsa... pautada...
Desgarrada das outras que se mantinham grudadas no caderno.
Como qualquer outra folha avulsa e rabiscada, seria lançada no cesto de lixo, não antes de ser devidamente concentrada, reduzida a uma bola e arremessada para a terra dos descartáveis.
Com ela será diferente, pensei: posso dar-lhe um fim diverso e lúdico. Dobrei-a com técnica e cuidado, com a mesma habilidade da infância. Nela fiz surgir duas asas com perfeita aerodinâmica. Abri a janela do meu andar e a lancei. A folha convertida em avião planou sobre a cidade. Rodopiou no ar comandada pelo vento. Pareceu querer voltar e me agradecer. Depois desceu. Pousou suave na calçada do térreo aos pés de um menino passante, que a tomou em suas mãos, olhou para cima, me viu e sorriu.