O Perdido e a Lua

Sentado em minha sacada, observo o vasto firmamento. As estrelas brilham como pequenos faróis na imensidão, enquanto a lua, majestosa, derrama sua luz prateada sobre a noite. É nesse silêncio que mergulho nas memórias de minha vida, mas, ao tentar alcançá-las, sinto-me perdido, como um náufrago em um mar sem fim. A mente transforma-se em um labirinto sufocante, onde cada pensamento ecoa como um grito de desespero. Tento correr, mas meus pés estão presos ao chão, como se o próprio tempo me mantivesse cativo. A sensação de desamparo é avassaladora, e tudo o que resta é um vazio que grita em silêncio.

Desisto de lutar. Sentado no chão frio, é como se minha própria mente tivesse me arremessado ali. Minutos se passam, ou talvez sejam horas, e o silêncio é quebrado apenas por passos leves que se aproximam. Um aroma doce paira no ar — algo tão reconfortante que faz meu coração se aquietar. Quando ergo os olhos, vejo uma figura delicada: uma mulher de cabelos longos e sedosos, trajando um vestido branco adornado por véus que dançam suavemente com o vento. Seu rosto está oculto por um véu, mas sua presença emana serenidade. Com uma voz calma, quase etérea, ela pergunta:

— O que fazes aqui, sentado como um proscrito?

Olho para ela sem compreender plenamente, mas encontro coragem para responder:

— Não sei mais por que estou aqui. Estou perdido, sem rumo, buscando uma saída que parece inalcançável.

Ela me observa em silêncio, como quem já conhece todas as respostas, e estende sua mão com delicadeza:

— Se permanecer aí, jamais encontrará caminho algum.

Hesitante, aceito sua mão. Ela caminha com passos firmes e graciosos, como se conhecesse cada labirinto de minha mente. Enquanto a sigo, um turbilhão de perguntas me consome: “Quem é essa mulher? Por que confio nela? Será real ou apenas mais um fragmento desse caos interno?” Por fim, paro e a encaro, incapaz de conter minha inquietação:

— Quem é você? Qual é o seu nome?

Ela se vira para mim e, com uma serenidade que parece tocar minha alma, responde:

— Tenho muitos nomes: Ayla, Mayar, Ártemis, Naiá, Nikini. Chame-me como desejar. Agora, sigamos, pois a noite não espera.

Embora confuso, continuo a segui-la. Algo em sua presença é familiar, como se ela sempre tivesse estado ali, observando-me de longe. Enquanto caminhamos, meu peito se aperta com remorso. A cada passo, sinto o peso dos erros que carreguei como cicatrizes em minha alma. O arrependimento consome meus pensamentos, como se eu estivesse afundando em um mar de lembranças que preferia esquecer. Sem que eu precise dizer uma palavra, ela fala, como se pudesse ler meus pensamentos:

— Remoer os erros não te ajudará. Aprende com eles. Fortalece tua intuição, transforma a dor em sabedoria e renova tua alma para enfrentar os desafios que ainda virão.

Suas palavras penetram fundo, embora o medo de mudar ainda me paralise. Aceno com a cabeça, incapaz de falar.

Quando dou por mim, estamos diante de uma saída — um portal que parece pulsar com a promessa de liberdade. Ela se detém e me encara pela última vez.

— Proscrito, a saída que procuras está a um passo. Aqui é onde me despeço de ti.

Olho para ela, grato, mas também relutante em deixá-la ir. Antes que possa cruzar o portal, chamo-a:

— Quem é você, de verdade?

Ela sorri, e sua voz ressoa como um sussurro do vento:

— Pensei que, a essa altura, já soubesses. Sou quem observa os corações perdidos, quem ilumina as noites mais escuras. Sou aquela que inspira versos de amor e guia os que se perdem no caminho.

Ainda confuso, arrisco um último pedido:

— Posso ver teu rosto?

Ela se aproxima, envolvendo-me em um abraço frio e reconfortante. Sussurra em meu ouvido:

— No fim, não tenho uma verdadeira face. Sou aquilo que tu consegues imaginar, uma forma que tua mente cria para compreender o incompreensível.

Com essas palavras, ela me empurra suavemente em direção à saída. Acordo, recobrando minha lucidez. Há um silêncio profundo em meu coração e mente, como se todas as respostas estivessem escondidas ali, aguardando para serem desvendadas. Quando levanto os olhos para o céu, é como se todo o universo tivesse conspirado para que eu entendesse. A lua me encara, silenciosa, mas carregada de significado. Um calor inunda meu peito — não um calor físico, mas algo que preenche o vazio. Pela primeira vez, o silêncio dentro de mim não é pesado.

Inclino-me em reverência diante de sua luz prateada e murmuro:

— Obrigado por ter me guiado.

Permaneço ali, perdido em pensamentos, contemplando-a até que a noite se dissolva no abraço do amanhecer.