Diário IV - Fragmentos de uma voz silenciada
Era como gritar em um abismo, onde a própria voz se perdia no vazio. Cada tentativa de se expressar era meticulosamente moldada, sentindo os estilhaços dos fragmentos, mas o retorno era sempre o mesmo: um silêncio cortante. Não o silêncio que acolhe, mas o que exclui.
A indiferença do outro pesava como uma pedra sobre o peito. Os olhos, que buscavam ao menos um reflexo de compreensão, encontravam apenas o vazio, como se a presença fosse invisível, como se a voz fosse um ruído insignificante. Era um esforço que se desfazia, como ondas batendo em um rochedo imutável.
E então vinha a humilhação. Não como um ataque direto, mas como um veneno sutil, impregnado na ausência de respostas ou nas palavras frias que cortavam mais fundo do que qualquer lâmina. Era como oferecer o coração em mãos e vê-lo ignorado ou, pior, desprezado.
No meio desse ciclo, a dor se misturava à dúvida. Será que o problema era a forma como se expressava? Será que as palavras não eram suficientes ou eram demasiadas? A solidão ganhava forma, enquanto a coragem de tentar se desgastava.
Mas no fundo do peito, ainda pulsava uma resistência silenciosa, uma voz interna que dizia: Continue tentando. Não por eles, mas por si mesmo. Porque, apesar do silêncio, da indiferença e da humilhação, a verdade de quem somos merece existir — mesmo que seja em um mundo que, às vezes, insiste em não ouvir.