Diário III - A solidão permanente
Ser solitária no mundo é como habitar uma casa sem janelas, onde o eco das próprias palavras é a única companhia. É carregar um peso invisível que se espalha pelo corpo, mas se concentra na alma, pressionando-a como uma pedra enterrada fundo demais para ser retirada. Não é a ausência de pessoas que define essa solidão, mas a distância intransponível entre o que sou e o que os outros enxergam.
A solidão não é silêncio, porque dentro de mim há um grito constante. Um clamor por compreensão, por presença verdadeira, por algo que alcance o que está além do superficial. Mas o mundo parece feito de paredes que refletem de volta aquilo que tento expressar, transformando cada tentativa de conexão em mais uma confirmação do abismo.
Ser solitária é caminhar por entre os dias com uma máscara de falsa normalidade, revestida de teatralidade forçada, enquanto, por dentro há um deserto vasto e inóspito. As pessoas passam, sorriem, trocam palavras leves, e eu respondo no mesmo tom, mas tudo é vazio. Porque ninguém fica, ninguém realmente vê. Eles estão ocupados demais com seus próprios mundos para perceber que eu estou presa no meu, tentando desesperadamente construir uma ponte que nunca chega ao outro lado.
Há um peso em saber que o que sou nunca será parcialmente e inteiramente compreendido. Que os pedaços mais profundos de mim, permanecerão trancados, não por falta de vontade, mas porque não existem chaves. E isso dói. É uma dor que não grita, mas consome devagar, como uma chama que nunca apaga, mas também nunca aquece.
E, no entanto, a solidão me faz forte. Ela me obriga a encontrar em mim o que não encontro nos outros. Ela me ensina a caminhar com as próprias pernas, a me segurar quando o chão parece desmoronar. Talvez seja esse o paradoxo: ser solitária é terrível, mas também é uma forma de liberdade. Porque, na ausência dos outros, aprendi a me enxergar e compreender. E, mesmo que o peso continue, há algo de poderoso em carregar o próprio mundo, mesmo quando ele é feito de vazio.