Diário II - O fardo de sentir o mundo

Confesso que ser diferente é um peso que carrego em silêncio, uma chama que queima sem cessar, mas que ninguém mais parece enxergar. É como caminhar em um mundo onde os tons são mais vibrantes, os sons mais altos, as emoções mais intensas — e, ao mesmo tempo, sentir-se fora de lugar, incapaz de pertencer.

Ser altamente sensível é perceber tudo de forma amplificada: o sussurro das folhas parece gritar, a dor de outra pessoa atravessa minha pele como se fosse minha, e até o silêncio carrega um som que ressoa dentro de mim. Enquanto o mundo parece seguir sua rotina sem peso, eu sinto cada detalhe como uma avalanche. Cada ruído, cada olhar, cada palavra mal colocada é uma ferida, um eco que insiste em permanecer.

Às vezes, sinto que estou sempre à beira de um abismo emocional, balançando entre maravilhar-me com a beleza que vejo e ser esmagada pela intensidade dela. Tudo me afeta — tudo. Um gesto desatento, uma palavra dura, até mesmo o modo como alguém desvia o olhar. Tento ser forte, mas há dias em que o peso é tão grande que sinto que vou desmoronar.

Ser sensível não é uma escolha. É uma maneira de existir que me diferencia, mas também me isola. Eu vejo e sinto o que os outros ignoram, mas, ao mesmo tempo, parece que ninguém sente ou vê o que eu preciso que enxerguem. E, nesse paradoxo, eu carrego a solidão de ser incompreendida, de ser julgada por sentir demais, de ser chamada de frágil quando, na verdade, carrego um mundo inteiro dentro de mim.

Confesso que, às vezes, desejo ser como os outros. Queria desligar essa intensidade, ser capaz de passar pela vida sem ser atingida por cada mínima coisa. Mas essa sou eu. Mesmo que doa, mesmo que o peso me faça tropeçar, continuo a carregar minha sensibilidade como um fardo e um dom. Porque, no fundo, sei que ela me permite ver o que é invisível para muitos, sentir o que é essencial, mesmo quando ninguém mais parece se importar.