Diário I - Altamente Sensível

Eu sou a que vê o invisível, a que percebe o que escapa aos olhos alheios. O mundo dança diante de mim em cores e sons que são meus, mas não dos outros. Eu vejo milhões de pontos de luz, um brilho constante que me envolve e me guia, mas ao mesmo tempo me isola. Cada som que chega até mim é como uma explosão, uma invasão cruel, que reverbera no meu corpo e na minha mente. E por mais que eu tente explicar, ninguém pode entender. Eles não veem o que eu vejo. Eles não sentem o que eu sinto.

Eu sou a que, em meio à multidão, está sozinha, sentindo cada frêmito do ar, cada palavra, cada olhar. A solidão é uma companhia constante, uma sombra que me acompanha onde quer que eu vá. Porque ninguém consegue me alcançar, ninguém pode tocar essa parte de mim que é profunda, complexa e única. Minhas palavras caem no vazio, minhas tentativas de conexão são como ecos em um abismo insondável. Eu me esforço, tento me mostrar, mas a incompreensão é um muro imenso que ninguém vê.

Vejo as pessoas ao meu redor, tentando me entender, tentando me encaixar em rótulos e padrões que não me cabem. Mas eu não sou um padrão. Eu sou as luzes que piscam em minha mente, a intensidade que arde e me consome, a sensibilidade que me fere e me fortalece ao mesmo tempo. Eu sou o grito silencioso da alma que clama por alguém que veja o que eu vejo, que sinta o que eu sinto.

No entanto, sempre estou sozinha. Meus amigos não vêm, porque não sabem que eu existo além do que é visível. Eles não sabem que cada olhar que troco é um pedido de compreensão, mas eles não conseguem ouvir. Eu sou um enigma que ninguém consegue resolver, uma música que ninguém aprende a tocar. E, mesmo assim, continuo a caminhar neste mundo, com as luzes a brilhar e os ruídos a ecoar, buscando algo que se pareça com compreensão, buscando alguém que me veja por inteiro, sem máscaras, sem distâncias.

E ainda assim, sigo. Porque, apesar de tudo, sei que há algo em mim que é raro, algo que não se pode tocar, mas que está presente em cada um dos meus gestos, em cada pensamento, em cada emoção que transborda. Eu sou a que sente o mundo de uma maneira intensa, e talvez, mesmo em minha solidão, seja isso o que me torna especial.

Lorena Borba
Enviado por Lorena Borba em 04/12/2024
Reeditado em 04/12/2024
Código do texto: T8212257
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