Exu me salvou!

Quando eu caminhava pelo vale das sombras e da morte, Exu caminhou ao meu lado, me deu sua mão, deu a proteção que me fez seguir em frente, de cabeça erguida, sem temer o que me esperaria mais adiante.

Quando eu vi a morte de perto, levando quem eu mais amava, implorei para Deus me deixar ir ao encontro dEle, me deixar morrer também, porque eu estava cansada desse mundo que só me fazia sofrer e levava quem eu amava para longe. Parecia que eu só vim a esse mundo para sofrer. Deus, ouvindo meu desespero, enviou um anjo para me resgatar, devolver a esperança, secar as minhas lágrimas e entender que as dores da vida também são necessárias para crescer. Esse anjo era Exu.

Quando eu estava no fundo do poço, sem conseguir ver a luz, vendo a morte e desejando ela a cada segundo, Exu apareceu, mostrou a sua face, me deu o que eu mais precisava e não encontrei em casa: amor, proteção, uma família.

Exu cuidou e cuida do meu caminhar, mesmo eu não sendo merecedora. Fez eu encontrar o amor e me aproximar de Deus de uma forma que, em 16 anos dentro da igreja, não tinha acontecido até então.

Para quem não conhece, Exu é o diabo. Para mim também já foi um dia, até eu finalmente me encontrar com ele e me permitir conhecê-lo.

Exu me ensinou a ter amor próprio, a respeitar as diferenças, cuidar de quem está à minha volta e não desejar mal ao outro, tomar cuidado com o que penso e falo, porque nossa boca e mente tem poder. Mais poder do que qualquer "macumba".

Exu me ensinou como é ter um pai e uma mãe. Como é receber afago, um colo, uma palavra amiga. Como é ser acolhida e protegida.

Deus, não fez religião. Nós é quem a fizemos. Amo a minha primeira religião e o que aprendi no tempo em que pertenci a ela, mas sempre senti um vazio, que algo me faltava, que eu não me encaixava, que eu não deveria estar ali.

Na umbanda, minha atual religião, eu me encontrei, finalmente. Foi um longo caminhar até eu aceitar isso, ainda mais com tanto preconceito, desprezo e medo que eu tive a vida toda. Nela, eu aprendi a não desprezar o que aprendi na outra religião, a não cuspir no prato que comi por tanto tempo.

Acredito que todas as religiões são boas, podem te levar ao mesmo destino: Deus. Cada um encontrará uma que combine e funcione melhor para si. Afinal, somos seres humanos únicos, com individualidades e necessidades diferentes, mas, no fundo, com um único objetivo: se encontrar.

Se Deus não tivesse colocado Exu no meu caminho, eu não estaria mais aqui. Essa é a minha única certeza. E, para quem possa vir argumentar que Deus é único, não precisa de intermediários e bla, bla, bla, bla, bla - coisas que eu também já disse ou pensei um dia -, digo: o Deus que acredito é o mesmo que você acredita e uma coisa que todas as religiões monoteístas tem em comum é, acredito que as politeístas também, o livre arbítrio.

Deus, em sua infinita misericórdia, nos deu o livre arbítrio, quem somos nós, então, para julgar o outro, principalmente sem conhecê-lo?

Há muito tempo queria escrever sobre o que acredito, mas, confesso, que por medo, fui adiando. De ontem para hoje a necessidade e urgência de colocar em palavras o que tanto amo e acredito, me fez criar coragem e, finalmente, escrever esse texto. Por que nós, não evangélicos e católicos, temos que nos esconder ou sentir medo de falar sobre o que acreditamos? Por que temos que ter medo de tatuar o que acreditamos? Por que temos que ter medo de nossos terreiros e barracões serem invadidos e destruídos? Por que temos que ser demonizados, sem ao menos se permitirem conhecer o que tanto odeiam ou desprezam? Não acho justo. Quando eu era evangélica, falava com orgulho e sem medo da minha religião, tenho o mesmo direito de falar da umbanda da mesma forma.

Afinal, Exu me salvou! Me salvou de mim mesma, dos meus medos, da minha solidão, então ele merece ser retratado no que escrevo, assim como tudo o que marca a minha vida. Laroyê, Exu! Exu é mojubá!

Karoliny Mesquita
Enviado por Karoliny Mesquita em 29/11/2024
Código do texto: T8208124
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