Décimo oitavo conto poético: eu visitei aquele dia

Lá no início dos anos 2000

Naquela época em que a esperança era mais ingênua

E não mais uma questão de sobrevivência

Sonhos e vícios de um adolescente

Quinta, sétima série...

Antes do ensino médio, em 2004

Voltei naquela tarde seca de um dia que eu guardo apenas uma sombra de momento

De uma brincadeira na casa de um amigo de escola

Brincávamos de "pique altinho"??

Metade crianças, metade adultos

Ainda tão crus

Como se o mundo nunca girasse

Como se o tempo fosse pra sempre

Eu me vi como nenhum espelho poderia ter mostrado

Mais pálido, desengonçado...

Com medo de tudo

Mas ainda valente

Saindo de sua órbita de timidez

Tateando o que é ser mais livre

E só me lembro disso naquele dia

Lembro de outros momentos na casa do tio de outro amigo

Que eu achei, nesse ano em que escrevo, que se tornaria a minha vizinhança

E ainda sem qualquer certeza do que será (conto no próximo conto?)

De quando eu desbravei novos ângulos da cidadezinha que eu nunca quis

De quando eu saí do meu casulo de segurança e prisão

Me lembro de nadar naquela piscina

Que hoje é apenas uma brisa do meu passado

De um passado cada vez mais distante, mais borrado...

De um tempo que eu sinto como se fosse outra vida

Das tantas que matamos sem perceber

Que morrem como se a morte não fosse nada

Apenas uma mudança extremamente discreta

Mas as lembranças continuam até onde conseguem resistir

Como um vento que assovia constantemente

Se até ao último leito ou se perde o fôlego muito antes

Dessas lembranças em que vivemos a felicidade

A perfeição nesse único espaço de viver