SILÊNCIO
Silêncio como respiração...
Perene, serena e vívida
Silêncio como conduta
Em dias barulhentos e em noites insones
Silêncio como combustível
Da vida, da sina ou da sobrevivência
Silêncio como bálsamo
Das dores, dos amores e das dúvidas que carcomem por dentro
Silêncio como coragem
Para cruzar o horizonte bárbaro dos reinos internos
Silêncio como raiva
Potente, construtiva e necessária
Silêncio como habilidade
De civilidade, de retórica e de total loquacidade
Silêncio como água
Para os sedentos por abrigo ou paz genuína
Silêncio como ímpeto e euforia
Aos que se cansaram das palavras desperdiçadas e das frases jogadas ao vento sem dó
Silêncio como preservação
Do eu, do ID e do EGO e da espera pelo Fim
Silêncio como morte
Do caos inerente à tudo e todos
Silêncio como jangada num rio revolto ou num lago maior que o mar
Silêncio como arte e cultura de um povo resumido ao indivíduo que se cansou dos ruídos externos
Silêncio como terapia permanente para os quebrados pelo som interminável dos descasos e leviandades
Silêncio como conforto e aconchego
Pra quem não dorme há eras e não encontra alívio na música do cotidiano
Silêncio como hóstia aos que tem fome de redenção ou absolvição distantes
Silêncio como alvorada pra mim que vivo numa noite eterna
Silêncio como companhia
Aos solitários que buscam solitude
Silêncio como sanidade
Para os loucos cheios de razão
Silêncio, enfim, como resposta
À tudo e à todos que deixam-no como a nossa única alternativa