Antes
Foi um tempo suspendido. Os anos se arrastavam com parcimônia de esforço; tudo era refletido duas vezes.
Qualquer silêncio assustava, pois era prelúdio de pensamentos que, antes de serem reflexões, eram um reviver contínuo, de uma vida sem premissas. Fora dali, a multidão se movia, como se todos tivessem a resposta para tudo. Admirado, aproveitava um pouco da energia daquele movimento.
E, ao final, foram os anos que finalmente trouxeram o acalento: uma paz que não veio em forma de resposta.
Tranquilo e mergulhado numa quietude pulsante, deixava de ansiar pelo movimento. Era uma sensação de completude que unia o dentro e o fora, o passado e o sonho. Tudo estava completo, num estado etéreo onde nada era intransponível. E, num pensar, tudo se realizava.
Quantos me perguntavam... quisera eu saber responder. O que me foi dado, não foi procurado. Saído da intempernça do complexo, o simples me tocou, da escravidão do pertinente ao aconchego da ligação.
A vida desvendada, não em seus segredos, mas na cumplicidade. O tempo, a coisa e o eu, enfim reunidos num só corpo... agora.