Dicotomia abstrata
Há uma catedral erguida no âmago da alma,
de pedras que o tempo não consome.
É a morada da sabedoria,
silenciosa e infinita,
com pilares que tocam o céu do entendimento
e janelas que filtram a luz do discernimento.
Ali, o eco dos séculos é um sussurro de humildade,
e cada altar guarda o segredo do eterno.
Ao lado, em contraste gritante,
ergue-se o castelo da vaidade,
feito de espelhos que refletem apenas o agora.
Suas torres, tão altivas,
projetam sombras que escondem a verdade.
Suas paredes brilham,
mas são frágeis como vidro,
e os salões, repletos de ecos vazios,
não guardam nada além do eco do ego.
A catedral acolhe o cansado,
oferecendo repouso e reflexão.
O castelo, em sua ostentação,
atrai o distraído,
mas aprisiona em suas armadilhas
aqueles que confundem brilho com valor.
A sabedoria, como a catedral,
não teme o tempo nem as intempéries.
Ela é construída com paciência,
pelo trabalho invisível do espírito,
e resiste porque se fundamenta no eterno.
Já a vaidade, como o castelo,
é espetáculo efêmero.
Impressiona à primeira vista,
mas desmorona quando o vento da realidade sopra.
A sabedoria, ainda que humilde,
ilumina como um sol perene,
enquanto a vaidade,
por mais brilhante,
é apenas um fogo-fátuo,
que dança e se apaga na noite da vida.