Lembrança
O amor é uma fagulha altamente inflamável. Quando a gente pensa que esqueceu, uma faísca de lembrança é o que basta para atear fogo.
Era um dia qualquer, um dia simples, quando, tão íntima, lancei nele um olhar guardado, mas ainda novo em folha - que eu nunca havia ousado antes. E, em ritmo de valsa, agarrei na imaginação seus panos, afaguei todas as suas superfícies e entranhas... como se tudo o que eu via fosse uma descoberta somente minha e tudo aquilo fosse meu.
Embora não controlasse meus impulsos, não pretendia dele tomar posse. Apenas desejei que tudo parasse naquele instante e só ele para sempre existisse, estivesse, viesse e fosse... porque precisava mirar seu movimento, como dessa vez em que primeiro ele chegou, depois um vento o rodopiou lentamente no ponto mais profundo dos meus olhos e tudo se tornou nuvem azul...
e eu já não via mais nada do que havia antes.
Só via um bailarino girando em cada espaço mágico que surgia onde, a cada passo, se perdia e implodia toda a minha visão.