Caos líquido
Ela riu de algo, e, eu juro, o tempo congelou por um segundo. Era como se, ali, na curva dos seus lábios, estivesse guardada a fórmula secreta de todas as coisas que eu jamais soube que procurava.
Era o vinho, claro. Só poderia ser o vinho. Porque, enquanto ela falava, eu estava ali, meio bêbado de um jeito ridículo, deslumbrado, achando que as palavras que saíam da sua boca eram poeira de estrela. Se ao menos eu conseguisse organizar a bagunça que ela deixou no meu peito, mas... tem algo sobre o caos que vicia, que prende. Eu a olhava e me perguntava: como se vive com isso? Como se respira sabendo que existe alguém assim no mundo?
Ela me tocou o braço, de leve, e eu senti tudo ao mesmo tempo. As paredes, a cidade, o universo. Tudo derretia na minha frente, menos aquele instante, aquela risada. Mas, quem sabe, amanhã, seja só o vinho, o torpor.
Ou talvez seja mesmo eu, que nunca aprendi a lidar com o que me toma por inteiro.