Curto Circuito
Três noites seguidas de total insônia
Manhã de ansiedade escalonada à estratosfera
Agitação debilitante
Ando apressadamente de um lado para o outro da casa
Abro as cortinas e penso que eu poderia sair
O dia está ensolarado
Suo frio com esta simples ideia
Não consigo ver filme
Não consigo comer
Não consigo pensar
Até o loop de pensamentos negativos sucumbiu à centrífuga magnitude desse vórtice
mental
espiritual
físico
sobrenatural
Curto circuito incendiário de todo o sistema nervoso
Sem disjuntor pra desarmar
Alertas ligados
Fios desencapados
Ninguém virá me salvar
Diafragma tensionado, arritmia
Uma fúria revira meu estômago
Borbulha em fogo prestes a explodir
Sinto que vai rasgar meu peito
Tomara que, finalmente, rompa esse nó de palavras e amígdalas
que há meses entala minha garganta
Já conformada com o colapso que se avizinhava
Eis que surge uma frase no ar:
“Sábado de sol, após uma semana de chuva, é dia de botar roupa pra lavar”
Não sei se foi Anjo da Guarda, Santo, Orixá, Universo ou Alá que soprou a ideia salvadora
Na dúvida, prefiro não desafiar
frases diretas, afirmativas, assertivas,
que aparecem no ar,
sem deixar qualquer dúvida ou questionamento
A famosa intuição
Que não costuma errar
Então, roupas lavando, comecei uma faxina
Coloquei uma música, mas, logo desliguei o som
Estranhamente, não havia vozes ou pensamentos na minha cabeça
Mas, havia algo lá
Uma tátil bruma de calmaria, a revelar um octaedro,
branco, amplo, reluzente,
bem no meio da minha mente
Sim! Um espaço físico!
Que me impelia a manter intacta aquela paz do poliedro do ar
Deixei minha alma em repouso naquele sólido de Platão
e fiz a faxina em silêncio
O suor já escorria pelo corpo e ensopava o cabelo
Quando percebi que nem meu solfejar ousara perturbar aquela misteriosa serenidade
E me dei conta, que eu não pensava em nada
Absolutamente nada, que, não aquele exato instante, existia
E, então,presente, chorei
Litros de dor contida,
tristeza, culpa e desapontamento
Torrente a inundar tudo até o sofrimento secar
Depois da tempestade, fez-se calmaria em mim
Octaedro branco de merecido descanso
Permaneci em silêncio pelo restante do dia
Ainda não sabia, mas,
preparava-me para os próximos dois dias de faxina