O Caminho
O Caminho estava lá, à frente, parado, esperando segui-lo. As instruções que estavam na folhinha antiga de papel manchada eram claras: "IDE". E no seu rodapé havia uma pequena observação: "Não se esqueça de olhar para o horizonte". Peguei as minhas trouxas e saí.
Não é que eu fosse desobediente ou que não gostasse de seguir regras, mas, algo em meus próprios pés me chamava a atenção. Às vezes tinha medo de que eles estivessem imundos por causa da lama do local, o que me fazia mirá-los enquanto se moviam; outras vezes pensava que as pedras no caminho haviam lhe ferido (pois estava descalça) e novamente voltava meus olhos a eles.
Foi então que em um momento da caminhada percebi que tinha vagado por horas olhando apenas para os meus pés e me esquecendo totalmente do horizonte.
Tentei reerguer a cabeça, mas minhas costas doíam demais, elas já estavam acostumadas com aquela posição curva. Respirei fundo, esforcei-me para recordar a sensação de ter o rosto voltado ao sol, mas nada adiantou.
O desespero tomou conta da minha mente enchendo a de vivos pensamentos de fracasso: "Eu ainda estava no caminho certo ou será que meus pés me enganaram e me fizeram desviar da rota que a muito custo me foi dada?"
Os olhos -donos de mim- ainda caídos começaram a transbordar a angústia, os passos cessaram e o corpo, todo dolorido, caiu sobre a lama da estrada.
Suja, ferida e quebrantada, assim me encontraste. Você surgiu no momento em que mais precisava. Me carregou no colo, mas não me senti um peso; sarou minhas feridas e endireitou minhas costas, mas nada cobrou. Me limpou, restaurou e, como se não bastasse, me deu as próprias sandálias que sempre, para todo o sempre, me recordará de Te olhar.
• Obrigada, Horizonte.