Noite

Presenciei uma cena divina. Era como uma pintura poética, hipnotizante aos olhos: um único planeta avistado, permeado pela escuridão. Pelo tempo chuvoso de anteontem, o céu estava fechado, permaneceu com a nebulosidade das estrelas. Acredito que vi um planeta, porque a luminosidade dele estava forte, o que me leva à crença de não ser uma estrela. Não importa, foi o suficiente para que me sentisse contemplado por sua beleza.

Devia ser umas vinte horas quando o vi, estava caminhando no corredor, pensando aleatoriamente. Olhava cenários onde a bondade humana se arrastava por pedras, amarradas por nossa dívida da existência. Vários pés de todas as formas caminharam, como nos dias que eu vago no corredor estreito. Enxergo todos os deuses prostrados na vigília dos humanos. A maldade deu passos largos na trajetória de nossa espécie. Os artefatos humanos são lascas dos deuses, que nos requisitaram um pouco de glória contornada em fealdade.

Gosto de sentir que o universo tem um lado místico, como se houvesse segredos entre o cosmos e o homem. Nada é por acaso — o planeta que ora reluziu traços de pureza — que amiúde desvanece em minha imaginação — sumiu de repente no céu. Talvez alguma nuvem o tivesse tampado e a minha memória agora a desconsiderasse. Não pude evitar a melancolia: “Um sinal?”, “O que significa?”, entre outras incógnitas me passaram ao vento. Fiquei alguns minutos olhando para aquela noite incomum. Desejei, com os olhos, que ela voltasse. Tudo parece pueril, mas o meu mundo também é pueril. Passaram-se mais alguns minutos, e com isso, a minha esperança. Voltei ao túmulo e o lençol me aterrou o corpo.

É assim que funciona a vida de alguém medíocre. Enquanto a maldade humana veste a consciência no sufoco da esperança, eu olho planetas e estrelas… até o mundo me olhar pela última vez. Quero sentir tudo como se fosse carne e não houvesse leões violando meus medos. O problema é que tudo é fome.

Dedico uma elegia ao planeta que porventura morreu…

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 13/11/2024
Código do texto: T8196115
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.