Aquele quase futuro que passou
Eu guardo palavras como quem carrega um sonho dentro da algibeira. De certo modo, somos todos sonhadores, eternos guardadores de memórias, tropeços, acertos e até decepções. Aos poucos, vamos construindo uma Babel só nossa, com nossas próprias palavras contraditórias e nossos próprios desalentos. Eu guardo em meu bolso roto, os descompassos de um quase futuro. Aquilo que eu guardei mas que ainda não lembrei onde. Aquelas palavras tão simples como meu olhar distante, pra depois caminhar assim, perto o bastante do que posso merecer, ou mesmo merecedor do que ainda me é distante. E eu morro em cada quadrinho derradeiro de um desenho qualquer. Absorto, descompassado, mas acreditando que o futuro um dia chega, mesmo que já tenha passado perto e dado a volta, e tenha repetido, e tenha esquecido...Mesmo assim.
Das minhas palavras um tanto tristes, separo as alegrias pra quem de direito. Nos meus mais tranquilos dias, sou um desalento acalentado pelas horas, pelos carinhos dos meus filhos e pelos beijos do meu amor. Sou paisagem pintada, sem tinta, mas exuberantemente colorida.