Muros

Eu mesma ergui muros altíssimos na tentativa frustrada e até mesmo infantil e tola de me proteger. Contudo, só obtive aprisionamento.

Hoje busco a queda dos muros.

Muros que me impedem a vista,

Impossibilitam que a brisa gelada encontre minhas bochechas,

Delimitam espaço.

Muros que me fazem gritar para ser ouvida do outro lado,

Que, impossibilitando a vista, apenas me permitem vislumbrar a beleza do lado oposto, ou me aterrorizam com a possibilidade de uma paisagem assustadora.

Que inviabilizam a passagem,

Que exigem escadas muito altas e resistentes para alcançá-los.

Antes culpada pela existência do muro,

Hoje responsável pela sua construção.

Assumo com responsabilidade sua queda,

Tijolo por tijolo.

Celebro, no entanto, cada tijolo removido.

Numa noite dessas, inclusive, vi o brilho da lua em um dos tijolos faltantes.

Ele ainda se mantém de pé,

Mas sua queda foi declarada.

Já reservei assento aprazível com vista notável.

Como responsável pela construção do muro, declaro que assistirei, entusiasmada, seu desmoronamento.

Sua ruína trará novos ventos,

E tenho estranhamente cultivado a mania de querer o novo.