A casca

Era madrugada de sábado para domingo.

Havia uma ventania e pulsações no meu ouvido,

anunciando os cavaleiros do meu apocalipse.

Estática, sentada, com minhas entranhas esmagadas,

ali eu, coisa, objeto, dejeto,

sobra, resto, resultado de coisa alguma

que não fiz de mim.

Ali, acuada, com as extremidades do meu corpo congeladas,

sem mover sequer o menor dos músculos da minha máquina humana,

fui nocauteada pelo quente, úmido, sacro, hierático compadrio.

Ali, sem eira nem beira,

sem bons trajes,

sem sorrisos amarelos,

o mais inóspito de mim era contemplado por um par de olhos pretos, um focinho pontudo e gelado.

E naquele momento fui retomando a casca.

Ele me viu.

Ele me viu.

Ele viu.

Viu que tinha alguém ali

e entregou universos a quem não era matéria.