Que voulez vous?
O que eu quero? Não preciso de escusas ou averbações como só oferendas expiatórias sabem ser... Não quero desculpas à luz quente de uma primavera que já partiu em meio à chuva e à noite sozinha e triste. Pra quê me serviriam se não há voz que me cante uma canção de amor quando tanto preciso ouvir o som de uma voz carinhosa e querida me acarinhando a face? Mergulho na monotonia? Dela sei ser a morte! E já morri tantas vezes - não posso ousar parar o relógio mais uma vez... se for que seja a derradeira... Mas não quero que seja nesta fase de enlevo pela aversão ao mundo... Queria poder abraçar um sorriso na partida... e deixar sementes de amor e amanhãs... O que eu quero??? Nem sei mais. Nenhum pensamento me cruza... Nenhum sentimento além dessa dor que se agiganta dentro o peito... Em meus sozinhos fecho os olhos e procuro buscar em meu peito os restos, as sobras de uma alegria que me acordou pela manhã... e foi se perdendo durante o dia... na solidão e na tristeza de não ver minha face acarinhada pelas luzes amadas... Não preciso de escusas ou averbações como só oferendas expiatórias sabem ser... Não quero desculpas à luz quente de uma primavera que já partiu em meio à chuva e à noite sozinha e triste. Queria uma carta, um poema, uma palavra que me dissesse que sou amada... que sou ponto de partida, caminho presente, que sou a única paisagem do caminho, o próprio caminho, o horizonte, o sonho, o céu que se busca alcançar... Que voulez vous? Talvez seja exatamente isso: ser para alguém tudo aquilo que, no íntimo, sinto que posso ser. Ser amada sem reservas, sem desculpas ou arrependimentos. Querer é querer existir para além do espaço da dor, para além do silêncio que ecoa nos sozinhos da noite...