Mãos macias

Batimentos cardíacos acelerados por debaixo da pele pálida.

Suas mãos macias seguiam, cirurgicamente, o mapa da minha nuca aos pés.

Ele tinha a estranha mania de decifrar códigos,

de transitar por mim.

Meus oceanos eram desbravados de forma a serem contidos nos livros da minha história para a posteridade.

Aqueles olhos escuros me liam e despiam com malícia.

O cheiro de pertencimento,

o hálito,

o toque,

a infusão.

Algo que não se continha nas mais estapafúrdias histórias de amor por aí.

Era fugaz,

animal,

evolutivo,

ancestral.

Ali éramos um:

não uma unidade, mas um ser mutante e potente.

Somávamos força e cromossomos.

Ele me fazia questionar e entender as leis da física com a simplicidade de quem soma dois mais dois.

Através daqueles olhos, eu dançava uma coreografia jamais ensaiada,

com a leveza e beleza de um cisne.

Aqueles lábios brincavam por cada milímetro da minha existência,

que, naquele momento, era plena, feliz e efêmera