Clarabóia
A escrita. Tantas vezes vista como barco à deriva, ou talvez um bote salva vidas. Eu prefiro a imagem de uma boia a me arrastar das profundezas abissais de mim para me conduzir a terra firme, onde deixarei o sol penetrar em cada rachadura da minha pele. Tudo queima. Tudo arde. Aqui está o fogo que nenhum ar libriano consegue apagar. De tanto ler Clarice me nasceram borboletas à mente. Aqueles arrepios vieram para carne. O estômago não digere as palavras. Por isso preciso me salvar, deixar a pele arder sob o sol de novas criaturas. Chega de me esconder em sombras ácidas, que minguam as luas que me habitam. De novo a escuridão úmida do fundo de tudo. Profundo chão, confortável e calmo. Nada seguro. Onde está a minha boia? Onde foram parar minhas palavras tão soltas? Essa liberdade que engendro não passa de um delírio no plano das ideias. Que ficam como imagens improváveis. Já basta! Hoje é mais um dia nublado, onde não cabem compromissos. Só o resgate daquela menina que ainda está nas dunas de areia branca, esperando, pacientemente, um novo caderninho para escrever seus versos.
*Si*