Declino do pensar
Lá vem, ao longe, adverso ao meu anseio
Um trem ligeiro, sem freios
Nos trilhos infindos de mim
Atulhado dos meus próprios passageiros
Transeuntes do meu pensamento
Frenético ir e vir sem fim
E amanheço, entardeço e anoiteço
E amanheço
Fatigado, ora, peço:
— Mente que mora em mim,
dá-me o prazer de que ficar,
por ora, inerte!
E nessa vastidão de mim
Que seja eu mera criatura só
Só silêncio e breu
Sem os ruídos de pensar
Sem a claridade de um sol inteiro
E que na minha utopia
Tu não me tenhas dó
Porquanto me apetece ser, inteiramente, só
Ao menos um dia
Que não me aflija o pensar
E seja minha inquietude, por um instante [só], calmaria.