Recortes da realidade
Ouço-me chover no telhado,
um som que se desfaz em poeira,
a chuva desce como se o silêncio tivesse cor,
pingos vazios que sussurram
o gosto do nada em cada poça.
O vazio é espesso, como se a terra
respirasse através das folhas que molham
o aroma de um tempo sem medida.
E na água que se espalha pelo chão,
percebo um cheiro de tudo que não aconteceu.
O vento, solitário, toca as paredes
como um dedo buscando a memória
que se dissolve na chuva.
Vejo o vazio se espalhar
em cada gota que se esconde na terra
e sinto o peso do som de um não.
A chuva cai e não cai,
dentro do vazio,
e o céu se faz mais leve
do que o ar que respiro.
Aqui, onde a ausência tem forma,
escuto o eco de um mundo que ainda não existe.