Recortes da realidade

Ouço-me chover no telhado,

um som que se desfaz em poeira,

a chuva desce como se o silêncio tivesse cor,

pingos vazios que sussurram

o gosto do nada em cada poça.

O vazio é espesso, como se a terra

respirasse através das folhas que molham

o aroma de um tempo sem medida.

E na água que se espalha pelo chão,

percebo um cheiro de tudo que não aconteceu.

O vento, solitário, toca as paredes

como um dedo buscando a memória

que se dissolve na chuva.

Vejo o vazio se espalhar

em cada gota que se esconde na terra

e sinto o peso do som de um não.

A chuva cai e não cai,

dentro do vazio,

e o céu se faz mais leve

do que o ar que respiro.

Aqui, onde a ausência tem forma,

escuto o eco de um mundo que ainda não existe.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 06/11/2024
Código do texto: T8191079
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