Existir

Eu queria existir.

Existir completamente.

Só de falar em voz alta, isso já me enjoava.

De certa forma, sabia que não era meu máximo, mas ali estava eu, aparentemente dando tudo de mim.

Alguns dias ou horas pesavam toneladas inteiras sob meu joelho fraco e ombros cansados.

Em outros, meu andar de criança me fazia brincar de pega-pega e esconde-esconde o dia todo, e, ao ser anunciado “hora de entrar para casa,” eu, com energia vital, me recusava a dormir.

Era como viver dois mundos.

Em um, eu me deleitava sob a juventude e vitalidade;

em outro, eu, vaidosamente, me despia de energia e existia em completo cansaço e caos.

Ambos eram eu.

Como ser inteira se era feita de metades, terços e quartos?

Hoje, por exemplo, me custou castelos levantar-me da cama, pronunciar meia dúzia de palavras e existir.

Talvez amanhã eu brinque por aí, fale com as senhorinhas na fila da padaria e aprecie o vento nos meus cabelos.