Zigue-zague

 

 

Quando um sonho morre até mesmo antes de se concretizar, quem se importa? Os sonhos podem parar de existir numa porta que se trava, e que não existe ferramentas capaz de voltar a abri-las, eles morrem simplesmente numa palavra dita grosseiramente, ou na frieza da indiferença, às vezes você não está preparado para deixar de sonhar, ou para escutar o que não queria... então desnorteado, você cai e se senta no chão de um lugar qualquer, pois encontra-se sem forças para sequer alcançar um banco de uma praça a poucos passos de você...

 

e para tentar animar a visão, você avista um gramado verdinho, ao longe, riscado pelo zigue-zague dos trilhos que se alastram, vindo de lugares aonde nunca você pisou, o trem chega eufórico apitando, querendo dar vida ao que já nem existe, despertando você para outros caminhos os quais você já não quer seguir... pois agora você é um ser triste... O trem, com empolgação abre as suas portas, vem trazendo novos rostos que farão rastros que não lhe interessa seguir, são estranhos, que com firmeza carregam seus estranhos sentimentos, do trem, alguns vão descendo... enquanto outros, nele, vão subindo, levando para muito longe outras sensações e dores, há pouca alegria nas almas e um infinito perdido de silenciosas poesias.

 

E eles, os pobres passageiros nesse ir e vir, marcam o chão, sem sonhos e mostram na face, os seus desenganos. Buscam um lugar novo, recriando sem gosto outro olhar para o nada, à janela suspira uma dor antiga... Concluindo por fim que acabou por dentro a poesia, a prosa, e sem rima e sem rumo cai em si...

 

De volta à realidade, ao lado do banco da praça, folhas cortadas, com sinal de formigas, e no zigue-zague das formigas, resta segui-las, sem pensar, sem nada querer, mais adiante, estendidas, toalhas quadriculadas de verde e branco, seus quadrinhos cheios de restos de frutas e de pão, num cesto ali largados copos e guardanapos descartáveis, sujos... e ao longe mais outras pessoas, e muita vida - E pouca vida dentro de alguns... Nesse túnel a dentro por onde vamos nos perdendo sem zigue-zague, numa linha reta, somos nós, e lá vamos... consumidos pelo tempo.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 05/11/2024
Reeditado em 14/11/2024
Código do texto: T8190194
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