Escamas
Quando o céu escurece, lembramos de seu cativante azul anil.
Quando a aridez assola uma relação, como já foi bonita.
Quando se desenlaçam os dedos, da importância do ente perdido.
Quando a doença se apresenta, do vigor cotidiano, pouco esmerado.
A vida humana é feita de espera.
O ordinário é subsidiário ao extraordinário.
Desprezamos o fato que tudo constrói-se no ordinário; A saúde , O amor, As memórias.
Uma raça tão capaz, incapacitada pelas próprias escamas que coloca nos olhos
Raça debilitada, frágil e pueril
Onde até o poeta que vos fala, tão crítico
É somente mais um com seus anseios passageiros.
Pressa e desatenção aos detalhes
Mais um que não aprecia a chuva
Nem a fresta de luz matinal.
Não experimenta o momento
E acinzenta a vida,
Para depois reclamar,a maldizer
Mundo de gente fraca de alma e de riso
De descrentes de que há almas decentes espalhadas por aí
Ô povo mal tratado que tanto apanhou e desaprendeu a beleza do trivial.
Ô vida indigna, que não basta ser sofrida, ainda é mal vivida .
Já que vivemos de quando, haverá um, em que as lágrimas cinzas se recolorirão.
O calor reacenderá em nossos átrios, o cuidar voltará a ser essencial
Um, em que redescobriremos a conexão com o tudo e todos e transcenderemos ao final.
Enna Luz