Escamas

Quando o céu escurece, lembramos de seu cativante azul anil.

Quando a aridez assola uma relação, como já foi bonita.

Quando se desenlaçam os dedos, da importância do ente perdido.

Quando a doença se apresenta, do vigor cotidiano, pouco esmerado.

A vida humana é feita de espera.

O ordinário é subsidiário ao extraordinário.

Desprezamos o fato que tudo constrói-se no ordinário; A saúde , O amor, As memórias.

Uma raça tão capaz, incapacitada pelas próprias escamas que coloca nos olhos

Raça debilitada, frágil e pueril

Onde até o poeta que vos fala, tão crítico

É somente mais um com seus anseios passageiros.

Pressa e desatenção aos detalhes

Mais um que não aprecia a chuva

Nem a fresta de luz matinal.

Não experimenta o momento

E acinzenta a vida,

Para depois reclamar,a maldizer

Mundo de gente fraca de alma e de riso

De descrentes de que há almas decentes espalhadas por aí

Ô povo mal tratado que tanto apanhou e desaprendeu a beleza do trivial.

Ô vida indigna, que não basta ser sofrida, ainda é mal vivida .

Já que vivemos de quando, haverá um, em que as lágrimas cinzas se recolorirão.

O calor reacenderá em nossos átrios, o cuidar voltará a ser essencial

Um, em que redescobriremos a conexão com o tudo e todos e transcenderemos ao final.

Enna Luz

Enna Luz
Enviado por Enna Luz em 04/11/2024
Código do texto: T8189713
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