Ambivalência
Ó triste choro primaveril!
Cai lento do céu... em alento contra o solo... sedento de amor!
Ó beleza nublada, inundada de introspecção!... retém minhas lágrimas, antes de se unirem às enxurradas, que não atêm-se às singularidades de cada gota.
"Cada gota conta!"... ainda que em contagotas, receosas de má interpretação.
A atmosfera lúgubre incita meu lado contemplativo, atravessa todas as minhas emoções.
Em uma manhã qualquer, mas impregnada de presença, me fiz ausência, num incorpóreo silêncio, numa obstinada solidão.
Em estado de mortificação e paradoxal concepção, dei à luz... ao que ante à escuridão vespertina, reverberava, em "dilatações" de um parto ocioso, persistente e latente, desde à primeira hora... madrugada afora, no grito da aurora.
Ó alegria tristonha!... cantarolando nos vendavais das precipitações, no vazio descomunal das aparências!
Espreitei a flor vencendo a dor, exalando seu adocicado perfume, em essência aconchegante e extasiante, sem querer chamar atenção, em exemplar discrição.
Das pétalas caídas, suas vestes desgastadas, ela era toda raiz... foi só por um triz!... que não se esquecera da impermanência das coisas... felizes ou tristes.
Esperei a tempestade passar... e o sol se pôr... calma(mente). Nessa ambivalência, algo em mim despertou. Doravante, não tardo correr para as janelas. Fitando o pranto que escorre delas, deixando a luz invadir cada cômodo... evadir as ilusões. Com meu coração em sintonia com a estação, sou (só) profusão.