O Peso do Toque
Afeto, para mim, sempre pareceu um peso delicado demais para ser suportado, uma leveza que dói, como o toque de uma asa contra a pele — tão suave, que quase desmancha ao menor movimento. Eu o vejo nos gestos dos outros, tão fácil e leve, e ao mesmo tempo, há em mim um bloqueio silencioso, um passo para trás sempre que alguém tenta se aproximar. É um medo antigo, profundo, que me faz acreditar que talvez eu seja feita para observar o amor de longe, como se a ternura alheia fosse uma língua sem tradução.
Há algo em mim que se questiona sempre, como um eco persistente: sou merecedora de tanto calor? Cada vez que alguém me oferece um pedaço de si, uma gentileza, um gesto pequeno de cuidado, sinto-me dividida entre aceitar ou recuar. O afeto pesa, mas não pelos motivos comuns. Ele pesa porque traz à tona cada uma das minhas inseguranças, me faz ver todos os meus vazios e imperfeições, cada fresta onde o amor pode entrar e se perder.
E mesmo assim, há momentos em que esse peso se transforma, em que a barreira entre o querer e o merecer parece desaparecer. São raros, mas quando acontecem, é como se eu estivesse inteira por dentro, iluminada por uma luz que só o amor consegue trazer. Um toque se torna então uma espécie de milagre cotidiano, um espaço seguro onde posso ser, não perfeita, mas verdadeira, com todos os meus pedaços desalinhados.
É uma contradição que carrego: ao mesmo tempo em que temo o afeto, encontro nele algo que me salva, que me faz crer que, talvez, a grandeza do amor esteja justamente em sua disposição de habitar nossas imperfeições. De ser o sopro que me alivia, mesmo quando o peito teima em carregar o peso de todas as coisas não ditas, de todos os medos que escondo.
E então, quando o afeto se apresenta, simples e honesto, eu quase ouso acreditar que ele existe também para mim. É como uma reconciliação silenciosa entre o que sou e o que poderia ser. E nesse instante, ao me deixar tocar pelo amor, compreendo que talvez ele seja, no final, mais leve do que todo o medo que carrego.