Divagações - II -

* Não sabiam do amanhã, se seria ou não seguro. Não guardavam esperança vã de conquistar um melhor futuro. Viviam o hoje, o agora, sem ilusão perdida. Não tinham tempo nem hora para chegada ou partida. Sentiam-se bem assim. Não temiam qualquer tropeço. Não sabiam quando seria o fim nem quando fora o começo. Amavam-se simplesmente, no maior dos sonhos seus. Num amor que nem se descreve. Não sabiam quando era o adeus ou quando era o até breve.

* Circulava silenciosamente com a sua solidão em ambientes lotados, mas vazios. Do alto som e do tilintar dos copos, captava os suspiros e o misturar-se das falas. Aquelas conversas desconexas pareciam ter somente um tema: a procura. A procura por alguma forma de felicidade. Mesmo que rapidamente. Mesmo que só por instantes. Ser feliz só um pouquinho. Pelo menos até o dia amanhecer...

* A leve e perfumada brisa, pela porta entreaberta, parece mesmo que avisa: “Alguém já vai chegar...”. O silêncio da noite inspira, na espera que atordoa. Do nada, alguém suspira. Qualquer ruído, já ecoa... O olhar, então, se agita. Um sorriso abafado acoberta a esperança de quem acredita: “Quem chegou, veio para ficar...”