Novembro

Os pássaros se escondem, as formigas se despedem das plantas

E se enfurnam nos buracos.

Vai chover.

Uma nuvem gigante, branca e bela olha a terra.

Vai chover, e muito.

A primavera vai se despindo.

A temperatura sobe e desce abruptamente, sem mais nem porque.

A nuvem branca escurece, ameaça, relâmpago risca o céu, explode trovão.

Vai chover e não é chuva passageira.

Primeiro uma chuva forte, arrastando tudo,

em seguida as nuvens vão se espalhando e a chuva cai lentamente,

horas a fio, dia e noite

noite e dia, ininterruptamente,

inundando barracos.

Nas vilas e favelas os sonhos desabam espantando expectativas

Alvissareiras de novembro.

Ah se meu coração fosse vasto, vasto como o de Drummond

E se minhas forças fossem ilimitadas,

Se eu fosse poderoso como Deus e o Diabo,

Não deixaria os corações desabitados.

Os servos olham para alto, na esperança de cativar Deus

E recolhem humildemente seus sonhos soterrados.