O Cigarro
Eu estava refletindo sobre a contraditória natureza da vida, sobre como o simples passar das horas nos assassina. Cada segundo que avança no ponteiro do relógio nos leva mais perto do fim. Viver mata. É contraditório, eu sei, assim como acender um cigarro e sentir prazer. A fumaça que inalamos é tragada pelo mesmo movimento que o corpo realiza para inspirar o ar puro; a ventilação pulmonar que nos conecta à vida pode ser, nas pequenas concessões ao prazer efêmero, o caminho para uma morte lenta e inevitável. Assim como o passar das horas, a fumaça do cigarro nos mata lentamente; da mesma forma, a vontade de viver ao lado de quem se ama nos conduz ao abandono, mas não vou falar sobre isso. No fundo, ninguém quer morrer ou ficar só – é a vida que nos assassina aos poucos. Prazer e autodestruição em cada inspiração, ferindo nossos rostos com a dualidade a que somos obrigados: o desejo de saborear a vida e o invariável desgaste que isso causa em nossos corpos e espíritos.