Introspecção 1
Ao entardecer eramos apenas gotas de orvalho silenciosas abraçando as noites. Logo, n'um jardim juntavamo-nos as sombras das árvores que dançavam como bandoleiros irreverentes em seus cavalos baios.
- Tu te lembras? - Eu dizia.
- Olhe para cima. Algumas luzes brilham lá no firmamento, alguma vez perguntastes o que são? Tu apenas sorria, e lá vinha o sol nascendo.
Meus olhos amanheciam com as pálpebras cansadas, mas mergulhavam as retinas nas águas cristalinas de tuas mãos em concha.
Guardei lembranças de quando fugi das avenidas resplandescentes. Tinha medo. Ao não fugir significaria sacrificar minha integridade interior. Minha paz parecia perder-se dentro daquela sociedade esquisofrênica, e então abracei outros caminhos. Neles te vi como brisa fresca a deslizar em meu rosto febril. Tu me afagavas a face como a brisa afaga as folhas verdes e mudas. E como havia felicidade naqueles momentos! Viestes como paz e acalanto, deste-me a calmaria e o silêncio que precisava; deste-me um quase perpétuo amor.
30/02/1987