Ventre

Ando caminhando com um vazio estranho feito um pântano sombrio no meio de uma floresta densa. Não há tristeza ou dor. Só silêncio. É como se a próxima revolução tivesse de eclodir desse vazio, desse silêncio sombra. Não há inércia. Nenhum sentimento dorme solene na calma das águas frias. Sinto que vou precisar seguir sem bagagens. Será preciso esvaziar-me inteira! Foi preciso ser fogo para me tornar cinzas. E da brasa morna dos dias febris serei um novo fogo. Outra mulher se constrói nas profundezas de mim. Sinto no ventre a força dessa nova persona. Mulher reconciliada com sua essência sagrada. Meu corpo já não quer o mar com a mesma intensidade. Tudo caminha assim, entre o estranho rumo a um outro desconhecido. Já vinha intuindo que o amor viria na contramão. Sinto a necessidade de esgotar. De pisar em novas terras, penetrar outros universos diversos, sem o fogo da paixão. Com a calma e o silêncio de uma coisa qualquer vinda de onde não poderia imaginar. Sigo mergulhada no pântano. Aceito o vazio. E nem posso ocupar meus pensamentos com algo desconhecido. Sou silêncio e espera. Caminho lado a lado com a menina ansiosa com as novidades do próximo renascer.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 28/10/2024
Código do texto: T8183878
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