ESTRADA TRINTA E OITO
Como explicar a história da vida, a linha imaginária, sucessiva, frames da invisível câmera que resulta do relativo tempo, qual captura, de um ser animado os movimentos, seus ânimos e desânimos, pensamentos. Câmera invisível do tempo que grava uma história que nem o ser citado saberá contar sem que tropece nos detalhes da linha do esquecimento, falsas memórias, relatos, remendos. Como se contam há muito tempo, quem conta um conto aumenta um ponto.
Ele não teria memória o suficiente para relatar precisamente tudo o que lhe trouxe até aqui, mas importa que aqui chegou. Há quem ache muito, há quem ache pouco, mas aprendeu a não se guiar pela compreensão do quantitativo e qualitativo dos outros. Notas são figuras numéricas de significado abstrato, materializadas como um código, risco, rabisco, pictograma, uma rasura no canto superior esquerdo de uma folha qualquer, projetando em si mais a capacidade míope que os outros têm de te enxergar, uma mera pretensão de qualificar o teu valor. De fato, não podem representar o teu potencial, que está intimamente ligado à tua individualidade, às tuas características subjetivas, imensuráveis e inenarráveis, internalizada no seu próprio ser.
Entre numa bolha ou "cada um no seu quadrado", (para não deixar de citar os filósofos contemporâneos) e fique confortavelmente em posição fetal. Enfim, entre na figura geométrica da sua preferência, para que este discurso possa parecer mais inclusivo, mas de qualquer maneira importa que entre... e seja engessado.
Pare! Olhe! Escute! Não fale o que pensa, não pense o que pensa, seja típico, seja igual, seja um boneco de ventríloquo, um fantoche, uma marionete! E então, como um berro que violentamente vibra seus tímpanos, levando um som quase ensurdecedor pelo seu aparelho auditivo até que o seu cérebro possa decodificá-lo e interpretá-lo como informação, se ouve: AGRADE!!!
O mundo parece não ter sido feito para os diferentes, ainda que se inclua ainda que se tente. Se foi feito para eles, bem possivelmente, nessa infinita estrada, os "mais iguais que os outros" lhes roubaram a posse, lhes tomaram a patente. A desigualdade é igualdade se os desiguais são semelhantes. Uma voz, se interior ou exterior, não se sabe, entretanto exclama: AGRADE!!! E ao lançar-te migalhas, ferozmente te incita: AGRADEÇA!!!
HÁ GRADES!!! AGRADE!!! AGRADEÇA!!! HÁ GRANDE GRADES!!!
Que sejam grades, que sejam grandes e que desagrade, mas o que importa tu podes ver além das grades. Há grades... Das grandes grades, grandes gritos: HÁ CÉU!!! Não há mais grades!!! Há grandezas!!!
Há verdade, há caminho, há vida.
Edson Monteiro da Silva
15/08/2024