REDENÇÃO
Entrei na catedral de pedra, mirando suas paredes bordadas e ouvindo o tilintar dos sinos na torre mais alta. Chovia, e minhas botas pisavam no tapete sagrado do corredor. Meus ouvidos se concentravam na ópera, e o ambiente acolhedor fazia minha alma tremer de frio.
Ajoelhei-me na madeira lustrada e comunguei meus segredos vãos, bem baixinho, mas alto o suficiente para alcançar o céu. Mantive-me rogando ave-marias e pai-nossos, sussurrando meu pedido de perdão e orando por clemência. Meus olhos marejados contemplavam a cruz pendida e o corpo ensanguentado de Nosso Senhor no altar imaculado.
Rezei e entreguei-me por inteira, até não haver mais nada a confessar, até os joelhos adormecerem e as lágrimas secarem. Não sei por quanto tempo permaneci assim, mas lembro-me bem de que, quando saí, a chuva havia cessado, e o sol morno voltava a aquecer a terra. Dei o primeiro passo e, diante da escadaria, avistei o horizonte, claro e límpido.
As tormentas se foram, e enfim senti a paz.