Fragmentos de sonhos desfeitos

Você acordou de um sonho que parecia meio embaçado, como quem sai de um mergulho profundo e se depara com a luz do dia invadindo o quarto pelas frestas da cortina. Lá fora, a cidade acorda com seus sons metálicos e vozes distantes, mas aqui dentro, tudo é um devaneio lento, como uma valsa meio descompassada, onde o tempo se estica, preguiçoso.

As paredes ainda guardam o eco de risos esquecidos, de conversas que ficaram pela metade. Um café frio sobre a mesa parece tão deslocado quanto a ausência de algo que você não sabe nomear. O som de uma melodia distante invade a mente, como se o universo sussurrasse uma lembrança antiga, que nem mesmo o coração tinha coragem de segurar firme. A vida segue como quem dança na ponta dos pés, tropeçando em certezas inventadas.

Há algo de cruel e doce em perceber que o mundo continua girando, que o ontem já foi embora antes mesmo de você perceber. As ruas lá fora, que antes pareciam familiares, agora são um labirinto de luzes trêmulas e vitrines que espelham uma versão de si que talvez você nunca tenha realmente sido. E, no entanto, há uma beleza estranha nisso tudo, uma espécie de consolo sutil na imperfeição dos dias.

Você caminha, como quem dança sem par, rodopiando entre as memórias do que não foi e os pequenos pedaços do que ainda pode ser.