Macondo

Desde o tempo do coronel

em Macondo o tempo parou

Há um eco antigo nas ruas vazias

um murmúrio de coisas que não mais são.

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Choveu. E o céu derramou-se sem trégua

por quatro anos, onze meses e dois dias

as gotas pesavam como lembranças

como um destino que nunca chega.

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Casas de madeira flutuaram na correnteza

perderam-se como sonhos

desfeitos e levados ao esquecimento.

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A bananeira, que um dia trouxe promessas

foi destroçada, como quem apaga a história

com mãos de tempestade.

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E os corpos dos que ficaram

impregnados de verde e de mofo

carregavam a marca de uma chuva sem fim

de um silêncio que o vento espalhava.

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Em Macondo, até o perfume era de solidão

uma umidade que prendia a alma

e ninguém mais sabia se era vida

ou memória o que restava nas esquinas.

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[Amante que sou dos "Cem anos de solidão"]

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MMXXIV