Não podem abraçar-me só porque sim.

Palavras sopradas pelo vento voam em minha direção. E abraçam-me.

Só porque sim. 

Visualizo o momento, num retrato a preto e branco. 

Levanto a mão, como faria qualquer índio, num gesto de paz, e conquisto o direito de ser ouvida. As palavras caem-me aos  pés, rendidas. Sabem que os blocos de gelo também choram quando derretem. Não podem abraçar-me só porque sim.

A distância sobrevive, salgada como a água do mar, que respira  ondas. Eu respiro silêncios, despedidas, esperas e nadas. A resiliência de quem aprendeu a ser e estar, como quer ser e quer estar.

Reconcilio-me com o vazio que nem sinto. Não me desinquietem as sombras que se aninham em palavras vãs.

Não me abracem. 

Não podem abraçar-me só porque sim.

Paula de Eloy
Enviado por Paula de Eloy em 17/10/2024
Código do texto: T8175929
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