Pelos Olhos Teus

Ah, se ao menos tivesse compreendido teu corpo,

Quando ele, indecifrável, escorria entre minhas mãos trêmulas,

Mas teus olhos, aqueles olhos de enigma, me detiveram,

E eu, qual náufrago em areia movediça, esperei por ti.

Meus pés, atados à âncora da esperança,

Na ilusão de que teu abraço me pertenceria,

E ainda assim, disseste que não deveria acreditar,

Que tua presença não era um destino certo, mas uma promessa efêmera.

Teus olhos, sempre eles, me surpreenderam uma vez mais,

E pela primeira vez, eu, pobre de mim, me movi,

Flutuando sobre essa areia traiçoeira,

Como se o ar me sustentasse,

Esperando que as aves, essas criaturas livres e distantes,

Estendessem suas asas e me levassem a ti,

Onde, quem sabe, o teu amor ainda me aguardasse.

Mas o que resta de ti agora?

Somente fragmentos de um amor incompleto,

Resíduos de uma chama que outrora queimou com furor.

Ambos sabemos — e isso me atormenta —

Que fui eu, sim, que desmantelou o que poderia ter sido eterno.

Carregarei, como Atlas o faz com o mundo,

A culpa de ter soltado tua mão,

De ter te abandonado às margens de um oceano que desconheço,

Onde as águas, com sua inexorável força, te arrastaram para longe,

E eu, impotente, vi-te flutuar nas ondas,

Cada vez mais distante,

Perdendo-te para o horizonte inalcançável.

Agora, ao encostar a cabeça, ouço o som agudo, quase ensurdecedor,

Como marteladas invisíveis, ecoando em meu crânio.

É o caos, borbulhante e ardente,

Um inferno íntimo, expandindo-se por todo o meu ser.

Ah, se eu pudesse escrever eternamente,

Sobre tudo o que me aflige,

Seria a dor, e apenas a dor, minha fiel companheira.

E a vida, com toda sua ironia,

É feita dessa dor crônica, quase bela em sua constância.

Ainda assim, há um consolo perverso:

Saber que, ao menos por um instante,

Eu poderia encontrar calor no teu abraço,

Naquelas noites onde os demônios interiores se revelam.

Mas novamente me encontro, sozinho,

Na companhia desses demônios,

Sem uma única chama de amor para aquecer minha alma.

O frio, ah, o frio que me envolve,

Penetra até os ossos,

E me sinto afundar, mais e mais,

No centro dessa areia traiçoeira,

Meus braços estendidos, como quem implora,

Esperando, desejando,

Que ao menos toque meus dedos uma vez mais.

Compreenderás, talvez um dia,

Que tudo o que fiz, fiz por ti.

Se este for o jogo divino,

Se tudo for uma prova,

Que Deus saiba,

De toda a raiva que lhe dedico.

Ele, que ousa brincar com minhas esperanças,

E com as dos outros,

Neste palco de crueldades e absurdos.

O mundo, uma peça sem sentido,

Coberto pela sombra do desconhecido.

Que o sangue dos inocentes,

Aquele que tantas vezes foi derramado,

Sirva de corrente para arrastar esse Deus,

Que suas próprias criações o assombrem,

Que os trovões, seus trovões, se voltem contra ele,

Na vastidão desta noite sem fim,

Que ele forjou com tanto desdém.

E sozinho, sim, sozinho, ele permanecerá.

E eu, se pudesse, cavaria minha própria cova,

Com a certeza de que um disparo enceraria tudo,

Se ao menos soubesse o que existe além desse véu.

Será que temo a morte?

Temo que não.

Mas não posso partir,

Sabendo que, lá do outro lado,

Nada poderei ver.

Prefiro, portanto,

Permanecer aqui,

Ouvir os gritos e gemidos deste mundo,

Toda a angústia, todo o desespero.

Preso em minha própria mente,

Me pergunto se a voz que ecoa incessantemente,

Essa melodia dissonante de um saber tão falso,

Não é, afinal, minha única companhia.

Quanto mais o tempo passa,

Mais me perco,

Como um tolo vagando sem direção,

Sem bússola ou estrela-guia.

E no entanto,

Eu sei, e digo de novo:

Eu te amo.

És tu, meu universo,

Minha constelação de caos e loucura,

Que me acompanha desde que nada sabia do mundo.

E agora, um rancor tão profundo me invade,

Que me faltam palavras para expressá-lo.

Deus, se um dia o encontrar,

Eu o confrontarei,

Por mim e por todos,

Por toda a traição que nos fez suportar.

Por que nos deu a ilusão da liberdade,

Se nada, absolutamente nada, faz sentido?

Por que existes,

Se te escondes de nós?

Lembro-me bem daquele teu riso,

Solto, sem resposta,

Ecoando nas minhas memórias.

E ainda assim,

Foste embora.

Talvez tenha sido eu,

Quem se retirou para a escuridão,

Onde, distante de ti,

Pude chorar em silêncio.

E ali, teus risos me perseguiram,

Como uma sombra persistente.

Teu abraço, agora, é distante,

Tão frio quanto os cobertores que me envolvem.

Nesta janela, olho para o vazio,

Onde qualquer coisa, qualquer ser,

Poderia entrar.

Talvez um anjo sombrio,

Para sugar minha alma.

Mas e essa raiva que me consome?

O que é?

Espero o nascer do sol,

Durante essa noite interminável,

Que me assombra.

Um violino toca ao longe,

As notas, solitárias, se aproximam do meu coração,

E suas cordas finas vibram junto às minhas veias.

Sinto a madeira velha pressionar meus pulmões,

E me pergunto:

Como é que as engrenagens enferrujadas

Ainda não me mataram de dentro para fora?

Paganini, se poeta fosse,

Certamente compreenderia o peso das notas,

A profundidade do medo e do desejo

Que nelas reside.

E assim eu sigo,

Sentindo tudo,

E ao mesmo tempo, nada.

Ah, se ao menos pudesse te ver,

Mais uma vez,

Teus passos suaves,

Naquela estação rodoviária,

Sob os meus olhos.

Nada tão caro, nada tão distante.

Dmitry Adramalech
Enviado por Dmitry Adramalech em 17/10/2024
Código do texto: T8175311
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.