O beija-flor, O amor e as Palavras.
Vejo a escuridão por entre as árvores
O barulho do silêncio noturno não é suficiente para me expulsar do peito a melancolia, que vez ou outra me visita nas noites. Não deixo que ela se transforme em solidão. Valho-me das palavras, companheiras exigentes, que me inundam de prazer ao mesmo tempo que se camuflam não se permitindo encontrar. No esconde, esconde, que elas me obrigam entrar, vivemos um amor estranho e delicioso. Elas me adoçam, enchem-me de entusiasmo e depois desaparecem feito um ato de magia. Parto para a desforra. Vou procurar socorro nas lembranças, nas recordações. Nelas as mensagens já estão prontas, gravadas na mente e na alma. Lembro-me das delícias que já vivi, como a do beija-flor, que entrou pela janela da minha sala, no seu vôo, parou diante do meu rosto e me tocou na boca, como quem veio entregar - me um beijo. As palavras então voltam me propondo amizade, se adiantam em versos elaborados com capricho, como quem quisesse que as apreciasse mais que o beijo trazido pelo beija-flor. O poeta se empolga e se aventura na mensagem recebida, entrega-se ao comando das palavras, abre o coração aos arroubos da paixão, sufoca, suprime, os inventos da razão. Seu sentimento se abraça ao beija-flor, seu pensamento o segue, ansioso pra rever o seu amor! O amor não morre, o amor se eterniza.