Estação

Pensei que talvez tivesses guardado em teu coração os céus que havias pintado para mim, minhas canções, minhas alegrias e minha insanidade. Pensei que pudesses voltar se te lembrasses os dias felizes e apaixonantes que descobrimos sem nenhuma pretensão.

Por que não me perdoar por passar horas em silêncio a descrever a beleza dos nossos dias? Descrevi as cores das flores exóticas, o sol poente, as águas azuis do riacho caudaloso, as gotas de orvalho ao amanhecer; porém, sem que eu percebesse, fostes nos primeiros raios de sol, mesmo sabendo o quanto eu choraria no desalento enfadonho.

Morei naquela estação onde os trens não paravam, onde te esperei todos os dias. De sol a sol.

Minh' alma tinha uma janela quebrada por onde entravam os sons do apito estrepitoso daqueles comboios cinzentos e o calor do abraço da despedida que não houve.

Os anos se passaram e os trilhos enferrujaram. Já não havia assentos na estação, nem apitos estrepitosos. Mas por qual motivo existiriam? Sumiram de minhas lembranças da mesma forma que sumistes naquela manhã.

10/03/1986

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 14/10/2024
Reeditado em 14/10/2024
Código do texto: T8173373
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