Natureza assombrada
Há um sussurro nas raízes das árvores, algo antigo que rasteja pelas entranhas da terra. As folhas nunca são apenas folhas — são olhos, vigias silenciosos que nunca piscam. O vento, quando passa por entre os galhos, carrega um lamento que não conseguimos nomear, como os gritos abafados das coisas que escolhemos esquecer.
No silêncio entre uma batida do nosso coração cansado e a próxima, que pode nunca vir, sentimos a vida escorrendo feito areia em uma ampulheta. A mortalidade, tão invisível e real quanto o ar que respiramos, cambaleia a nossa volta, vestida de trapos e sombras. Ainda assim, seguimos em frente, fingindo não perceber o vulto de algo muito maior à espreita, ou a dor contida nas coisas pequenas - como o peso de um olhar ignorado ou o vazio nas palavras não ditas.
A escuridão que reside em nós é exatamente a mesma que engole a luz no crepúsculo. Por mais que tentemos ignorar suas pegadas, ela sempre nos espreita, um espectro silencioso que nos lembra do que evitamos encarar.
Mas, talvez, seja essa mesma escuridão que nos chama para a frente, sedutora em suas promessas de revelação — um convite para entender o que há por trás dos véus da realidade e abraçar o desconhecido.