E se o vazio me basta?

Chego em casa, sozinho,

sem ninguém ao lado,

cheirando a cigarro,

mas o cheiro mais forte

é o das amarguras que carrego.

O vazio me acolhe,

não cobra, não me nega,

não se importa com minhas falhas,

nem com os amores que destruí,

os corações que quebrei

sem sequer perceber.

Com ele, posso falar,

desabafar sem resposta,

sem o julgamento dos olhos

hipócritas que espreitam a alma.

Posso ser feio, posso errar,

sem que o vazio me devolva nada.

Mas será que basta?

O vazio não me oferece abraço,

não traz o calor que desejo.

É um companheiro mudo,

sempre presente,

mas incapaz de me salvar

da fome de um mundo

Cinzento,

enquanto ele segue ali,

silencioso, sem promessas.

E o que resta de mim?

Sou bom ou mau?

Me condeno pelo que fiz

ou pelo que deixei de fazer?

No vazio, as perguntas ecoam,

mas as respostas não vêm.

Sou um mendigo de certezas,

caminhando pelas ruas

sem rumo,

sem direção,

carregando o peso do nada

e o amor que ainda resiste,

frágil, mas suficiente

para pintar o mundo

com uma tinta que não desbota.

O vazio é fiel,

não trai, não muda,

não fala, mas escuta.

E se ele me basta,

o que faço com essa ausência

que me aperta o peito

e me faz perguntar

se o amor ainda tem lugar

num coração que abraçou o nada?

O que sou eu, afinal,

nesse grande universo?

Talvez só um fio,

um pequeno traço de vida

que se perde na imensidão,

tentando, sem nunca saber ao certo,

se o vazio é abrigo

ou prisão.