Oq sou?….
Eis o que sou, se é que sou algo.
Eis, no vazio que me é dado, o que sou?
Nada se encaixa, nem o futebol, nem o jogo que finjo jogar.
Não sou poeta, não sou cantor,
sou, talvez, um eco perdido na multidão,
sem nome, sem voz, sem algo que me defina.
Quem sou?
A cada palavra que tento formar, o vazio me engole mais.
Falar? Não sei. Escrever? Talvez eu saiba, mas quem sou eu sem o que escrever?
Sou bom demais ou sou nada?
Nada, talvez.
Nada que valha ser lembrado.
Nada que caiba no mundo,
nenhum lugar onde eu, um ser sem lugar, possa repousar.
Eu amei.
Amei rápido, amei no silêncio das minhas próprias incertezas,
mas não o suficiente para que isso me destruísse.
Amei um amor que passou como um suspiro,
uma fagulha que não queimou nada além da minha saudade.
E então, em que clube estou?
Nos amantes? Nos que nunca amaram?
Nos que amaram mas não sabiam o que amavam?
Qual clube é meu?
Onde me encaixo?
Seria no clube dos trabalhadores?
Dos vagabundos?
No clube das vítimas ou dos algozes?
Nos que sofrem?
Nos que impõem sofrimento?
No clube dos que já não sabem mais quem são?
Onde me coloco no grande jogo da vida,
se a vida me diz que sou peça perdida,
que não se encaixa em canto nenhum?
Eu, Severino, sempre à margem,
sempre à beira do tudo e do nada.
Vivo, mas me pergunto se isso é viver,
ou se sou só mais uma sombra tentando respirar.
Mas o que sou?
Qual é a razão dessa existência, desse corpo que sente,
mas não sabe sentir?
Existo para sorrir?
Para viver o que? Se não sei o que é sentir de verdade?
Não tenho sentimentos, ou tenho muitos,
e nenhum é suficiente para preencher o vazio que me arrebenta.
Como aproveitar a vida se não sei o que é viver?
Como ser algo se o ser se me escapa pelas mãos?
Eu sou isso, ou sou mais do que isso?
Eu sou nada, ou sou tudo?
Eu sou o que me resta,
e me resta apenas perguntar:
Onde me encaixo?
Onde posso ser alguém, mesmo sendo nada?