Desencontros
Caminham pelas mesmas ruas e corredores, respiram o mesmo ar, cruzam olhares no silêncio das semanas. Ele de passos lentos, o corpo marcado pelo tempo, ombros largos e o peito repleto de sonhos que nunca ousou dizer em voz alta. A barba, espessa e escura, esconde a ternura de quem já esperou demais. Ela, leve como o vento, cabelos dourados que dançam ao toque da brisa, carrega no olhar a curiosidade do mundo e no coração a serenidade de quem busca algo ainda sem nome.
Caminham próximos, mas não se encontram. Em seus gestos há uma sincronia invisível, como notas de uma melodia que ainda nunca foi tocada. Ele prefere o anoitecer, quando as sombras se alongam, ela gosta da luz plena do meio-dia, que a faz brilhar por dentro.
O tempo, esse professor paciente, os observa com um sorriso discreto. Sabe que o encontro virá, mas hoje não. Ele se senta num banco do parque, um pouco cansado, observando as crianças correrem. Ela, do outro lado da praça, lê um livro sob a sombra de uma árvore: metros os separam, mundos os unem.
As palavras que eles nunca trocaram já existem, flutuam ao redor, aguardando o momento de serem ditas. Mas ainda não. O tempo não é uma linha reta para eles. São círculos que se tocam e se afastam, em um compasso perfeito de desencontros.
Um dia, quem sabe, ele pedirá um café enquanto ela estará ali, sentada perto da janela da cafeteria. Ele a verá, e algo se acenderá em seu interior. Ela levantará os olhos do livro, sentindo o calor de um olhar que a toca como uma brisa morna, e então, naquele instante, o mundo inteiro irá se sincronizar para que finalmente se encontrem.
Mas não hoje. Eles seguem, cada um em seu tempo, sem saber que o destino já escreveu para eles um final - que é apenas o começo.