ode ao regozijo
tenho esta má tendência
(terribilíssima prepotência) —
dum íntimo praguejar
num platonismo vulgar
duma negação
da perfeição
de ousar
reclamar
um quê
a mais
de alegar
faltar
qualquer coisa que seja
de provar do cálice
e acusá-lo amargo
de beber da água
e denunciá-la insípida
de provar da vida
e julgá-la sofrida;
íntima confissão:
julgo, ainda, ter razão;
que resta, então
senão a resignação?
eis, contudo
o propósito de tudo:
o segredo oculto —
o alento
do vento
um só momento
de silêncio
o calor
da primavera
todo
e qualquer amor
a organização
de toda a criação
a gestar
um coração