ode ao regozijo

tenho esta má tendência

(terribilíssima prepotência) —

dum íntimo praguejar

num platonismo vulgar

duma negação

da perfeição

de ousar

reclamar

um quê

a mais

de alegar

faltar

qualquer coisa que seja

de provar do cálice

e acusá-lo amargo

de beber da água

e denunciá-la insípida

de provar da vida

e julgá-la sofrida;

íntima confissão:

julgo, ainda, ter razão;

que resta, então

senão a resignação?

eis, contudo

o propósito de tudo:

o segredo oculto —

o alento

do vento

um só momento

de silêncio

o calor

da primavera

todo

e qualquer amor

a organização

de toda a criação

a gestar

um coração

Alê Ramponi
Enviado por Alê Ramponi em 09/10/2024
Reeditado em 09/10/2024
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