Lucas
Cercado da bobagem rotineira, Lucas crava seus olhos para algum ponto dentro da expansiva sala em que se encontra. Um instinto primário de auto- proteção - ele ali - não quer manifestar ou trabalhar às ideias que veio trazendo consigo mesmo, a respeito de toda aquela situação, ou falsidade como ele bem chamaria.
A verdade é que Lucas não se sente sincero com os próprios sentimentos. Com o que ele está fazendo ali. Lucas quer virar de costas e não ver mais nada ou ninguém, quer um colo, quer sua chupeta e todos os vícios antigos que ele um dia resolverá pelejar.
Alguém lhe pergunta:
-"Lucas você pode me passar a maionese"
Ele. Ele era Lucas.
Sandra, perguntou novamente, agora, olhando para ele.
Mulher. Aquele era o rosto que cansava seus olhos todas as manhãs, mesmas expressões, mesmo discurso e entonações, talvez, ousando-se um pouco, os mesmos pensamentos.
Lucas, não era poeta, ou psicólogo. Não era neurocientista ou um médium advinha. Mas Lucas sabia que algo, naquele momento, iria implodir.
Lucas passou a maionese, e antes da louça tocar novamente a mesa, ouviu:
-Ligaram hoje cedo, era mamãe.
Uma parte de Lucas quis chorar, soltar um pranto triste, não muito vagaroso. Aquela palavra, naquela frase, naquela boca. Lucas endireitou seu óculos.
-Brigou novamente, está possuída com toda a situação da casa.
Lucas quis prestar mais atenção. Mas um pedaço de bife caiu no seu colo. Lucas sentia-se um azarado. Não era briguento, mas um leve tremor em sua mão acometeu-o após a ideia impetuosa de atraverssar-lhe os talheres sobre aquele pedaço de carne mal cozido e irregular.
Voltou com o bife no prato, e ignorou qualquer coisa que ele já sabia na face de Sandra. Gostaria de lembrar, de que escolhas o levaram para alí. Em que momento ele planejou, ou imaginou aquela situação, a vida era mesmo uma caixinha de surpresas como seu pai dizia. O pai de Lucas.
Lucas sorriu, chorou uma única lágrima de dor expressa e disse:
-Vamos ligar para ela após a refeição.
Sandra assentiu.