Fantasmas do tempo
O tempo é uma ferida que não cicatriza.
Nesta sala, onde as paredes se aproximam opressoras e lentamente, me encontro prisioneiro de relógios que derretem, escorrendo como a vida que já foi e nunca mais será.
A mobília, grotesca, multiplica pernas como um inseto inútil, arrastando-se pelo chão opaco do cotidiano.
No espelho, não sou eu, não é você, não somos nós, não é ninguém — apenas um vazio distante, uma paisagem enevoada que o futuro jamais alcançará.
Cada sombra alongada, cada ângulo impossível, sussurra verdades que ninguém quer ouvir: a vida, essa frouxa ilusão, escorre por entre os dedos como a areia de um deserto infinito, eternamente encarcerada em uma velha ampulheta.
Na esquina do meu olhar, um vulto me observa. Não tem rosto, mas eu conheço sua presença. Somos irmãos, gêmeos no fracasso, filhos da mesma maré de desencanto. O tempo, esse fantasma cruel, nos devora lentamente, mastigando os dias até que não reste nada além do eco de nossas memórias mortas. E então, nem isso.
No fim, talvez nunca tenha havido esperança, nem nada.