Lembrança, de onde vens?
Fizestes do passado o meu presente,
E deste sentido ao que ficou imerso no tempo.
Não és cova das tristezas,
Nem o resto de brinquedos quebrados.
Não és a dor e nem o desamparo,
Pois em ti não encontro tristezas.
És a fiel escudeira da minha vida elevada aos céus,
Das montanhas escaladas ao sol escaldante.
És a alegria de um mergulho num rio de águas límpidas,
De uma fruta retirada nas grimpas da árvore,
De um pio especial de um pássaro nunca visto,
Do encontro com amigos ao fim da tarde.
És a arte de jogar pião ou bolinha de gude.
És o último sopro da inocência.
Ah! Lembrança!
Fica mais um pouquinho ao meu lado,
Não me desampare,
Não me deixe entristecer.
Por que das tantas coisas que hoje me lembro
Tudo me parece ser um tempo luminoso,
Dourado,
Envolto no cuidado familiar.